Muitas pessoas me perguntam por que arriar comidas se “santo não come”?
Esta pergunta já de cara identifica que a pessoa desconhece ou ainda não se conectou com o mais importante e fundamental da nossa Religião: as energias.
Tudo se move dentro das Energias Sagradas e os Orixás não são diferentes daquilo que conhecemos como Energias de Deus, Olorum, Zambi Oiapongue… enfim, seja qual for a nação ou fundamento.
Estamos a todo momento utilizando Energia Cósmica e em muitas das vezes, desequilibramos as nossas forças por vários motivos e podemos acioná-la através da comida de santo, manifestação da natureza (Orixás) que necessitamos para nos fortalecer novamente.
Imaginemos que somos um emaranhado de fios de energias com várias tomadas. Em alguns momentos da vida estamos ligados na tomada da emoção e desconectados das outras. Esta energia nos invade e como onda vai e vem e não conseguimos encontrar saída. Porém, temos outros fios que podem ser “ligados” e até diminuir a carga de energia emocional que causou desequilíbrio.
Como fazer isso? Neste contexto entram as oferendas de Comidas de Santo. Elas servem para nos “ligar” a fios por que não conseguimos absorver a energia e também para equilibrar a energia em excesso que nos invade naquele momento.
Toda oferenda é uma reposição de Forças do Universo que utilizamos ou desgastamos em nós mesmos em razão dos nossos desajustes, desacertos e dificuldades na vida.
Um bom médium precisa conhecer bem as Forças da Natureza que são os Orixás e em que áreas eles atuam para ter a percepção correta de qual “tomada” precisa ser mexida neste emaranhado de fios.
Além disso, precisa conhecer e saber que todo o Universo foi criado e é equilibrado em cima dos 4 elementos: Terra, Fogo, Ar e Água.
Quais elementos de Axé representam estes compartimentos?
TERRA – consumimos este elemento quando estamos cuidando de problemas de sobrevivência no mundo: se temos o pão na mesa, o dinheiro para pagar as contas, como está o corpo físico. O elemento que trabalha Terra é o MEL. Ele traz poder de concretização. Muito mel pode paralisar. As comidas regadas com mel possuem um objetivo concreto e físico.
FOGO – estamos consumindo quando estamos sendo chamados a ter muita iniciativa, tomar decisões, tiver enfrentamentos, coragem. O elemento que trabalha Fogo são os azeites. Eles trazem os “rebuliços” necessários para o avanço. Muitas vezes precisamos transgredir, quebrar regras para abrir espaço para o novo e estamos apegados e paralisados. As comidas com os azeites trazem movimento.
AR – consumimos Ar quando estamos planejando, pensando muito, sonhando acordados, nos relacionando com os outros, interagindo e comunicando. O elemento que trabalha Ar é o Oti (bebidas: cachaça, vinho branco…). Muito ar tira os pés do chão e a pessoa sabe de todas as coisas, mas não consegue concretizar nada. Vive no mundo da imaginação, mas se analisamos a vida dela, é só teoria. Nada de concreto. As oferendas com Oti impulsionam os sonhos, as ideias, o planejamento, e pessoas com dificuldade de relacionamento precisam deste elemento para interagir.
ÁGUA – consumimos Água quando estamos lidando com as nossas emoções de amor ou ódio. Com todo tipo de emoção positiva ou negativa. Questões familiares, conjugais, afetivas, sofrimentos, quando estamos nos sacrificando por alguém, enfim, vamos nos inundando ou ficando escassos deste compartimento. É a própria Água que se representa nos 4 elementos.
A LUZ gera Água e a Água gera Vida. Não podemos viver sem amor, sem nos envolver com o outro, sem compartilhar o que temos, sem compaixão. As oferendas com Água trabalham emoções.
Precisamos repor para a Natureza a parte de Deus que utilizamos mal, que desequilibramos.
A energia existe em abundância no Universo e como fonte inesgotável TUDO vem da combinação destes 4 compartimentos ou elementos, inclusive nós.
Por isso precisamos conhecer bem o que receitar para as pessoas que buscam a sua cura e até para nós mesmos, por que o tempo todo temos nossos altos e baixos na vida.
Para isso entram as Comidas de Santo.
Não estamos falando de “comida para comer”, mas de reposição de Energia Cósmica.
Somente o homem é capaz de danificar, esgotar e desequilibrar a Natureza, de consumir de forma irresponsável e ignorante.
Realmente “Santo não come” na concepção física da expressão. Mas estamos numa religião ritualística e o ato de preparar uma Comida, conhecendo os elementos utilizados, é um ato de magia, de amor para o desprendimento de uma energia necessária e sua volta à natureza ou para a conexão de uma energia que irá curar o indivíduo.
E quando não despachamos estas comidas? Você “apodrece” o seu pedido inicial. Tudo tem seus ciclos. A Natureza é assim: início, meio e fim. Uma comida de Santo só pode ser considerada que foi ritualisticamente bem feita quando preparamos, arriamos e despachamos. Isso é ser responsável pela energia que manipulou.
Sejamos médiuns conscientes, estudiosos e responsáveis por nossa jornada espiritual e principalmente precisamos compreender que a boa fé de quem busca o nosso Axé precisa ser respeitada e cuidada.
Axé!